Testes



Como tenho uma qualquer veia científica, provavelmente herdada do meu avô paterno que era investigador (engenheiro de origem), decidi pensar numa série de testes para alminha que resolveu engraçar-se por mim.

Confesso que, ao pensar nisto a princípio, dei por mim a sorrir maliciosamente e a dizer-me “ele esta nunca vai passar!”... Depois achei que é, e será sempre, demasiado cedo na minha vida para me transformar numa daquelas horríveis professoras velhas, chatas e azedas que tinha no liceu, e que faziam testes para lixar o pessoal. Enfim... a bem da justiça e das oportunidades, e essa treta toda, pus umas coisas mais rebuscadas de lado.

O danado tem-se safado. Por exemplo, já aguentou estoicamente quase 1 hora e meia de messenger em conversa séria, até dá boas respostas, e encaixou todas as minhas fugas às insinuações, ou melhor, declarações mais ousadas. Dessa vez, só nos últimos 10 minutos é que assumiu uma clara mudança de assunto, e pronto, até teve a sua graça. Noutra ocasião, também já resistiu à conversa da astrologia e saiu-se muito bem (esta adoro, é um bocadinho perversa – porque ficou sem saber até ao fim se eu era ou não uma maluquinha esotérica, que não sou nem por sombras, mas nem por isso se demoveu...). E em conversa mais aquecida, nunca passa o risco, fica lá sempre muito, muito perto, cada vez mais perto, mas não passa. E também reagiu muito bem a um travão que pus nesse registo, e a uma certa gestão de expectativas que fiz em relação ao nosso encontro. Inspirou-me confiança.

De repente fiquei a pensar se não fazemos sempre isto mais ou menos inconscientemente. Estes pequenos “testes”, geralmente perguntas aparentemente inofensivas, pequenas curiosidades, ou afirmações potencialmente chocantes, fazem-me lembrar um cross examining numa sala de tribunal. O único senão é que ninguém jura nada sobre coisa nenhuma, e não há polígrafo para confirmar a autenticidade das respostas. É uma questão de intuição e montagem, aos poucos, do puzzle do outro com aquilo que se vai sabendo, sendo que só ao fim de algum tempo é que se percebe o que se está a construir, e se há ou não peças que não encaixam em lado nenhum, e onde estão as peças em falta. Este puzzle tem-se montado num instante e já dá para perceber muita coisa, mas ainda há demasiadas peças soltas.

Não sei que puzzle é que ele construiu de mim e espanta-me, confesso, este entusiasmo tão galopante. Já percebi que ele apanhou muita coisa, assustadoramente mais do que pensei ter dado, mas a última foi chamar-me “cocktail explosivo”, num sentido muito positivo, e na sequência de uma conversa sobre razão vs emoção... Nem o facto de eu ser o montinho de paradoxos que aqui me conhecem parece que o afecta, antes pelo contrário. Imagino que também me deve ter submetido aos seus próprios testes, e a julgar pela “animação”, passei a todos... With flying colours, parece.

Mas o grande teste só mesmo ao vivo e a côres. Espero que sem tremores... Esse vai ser o primeiro polígrafo. Se passar, o veredicto do jurí pode levar menos tempo a sair.

14 comentários:

1REZ3 disse...

Princesa,
só para o registo.
O "montinho de paradoxos" é o mais interessante, o que atrai mais.
Não falo disso como um isco ou engôdo, é mesmo num sentido positivo.

Mas atenção, falo por mim, e não por ele(s).

Boa sorte. E muita calma ;)

CB disse...

13,
Estranha revelação! Sempre onsiderei isso uma desvantagem, ou um defeito...
E by the way, estou calmíssima. :)

catwoman disse...

No fundo testamos sempre, não é? Mas nisto estou com o 13: os paradoxos dão mais interesse. Se a paisagem não tiver uns montes e vales torna-se demasiado monótona, não é?
Bjs.

Anónimo disse...

Mana,
sim e em grandes planos, em technicolour, dolby surround e afins...
...e...
que sejam Mooooornas...e muito quentes, porque que nem só de kizombada vive uma mulher!!! :)
..e...
muita vitamina "A" que faz bem à pele e "C" porque é cor de laranja e nós sabemos porquê...
:-))))

...e perdoo-te se não publicares este que está cheio de malícias bem intencionadas. Ehehehe!!!!

fd disse...

O "rapaz" deve ter ficado a pensar que é mais fácil passar nos exercícios das tropas especiais. :)

Acho que é inevitável registarem-se avaliações mútuas. Também lhe podemos chamar conhecer, apreender, perceber, construir uma imagem... Agora a ideia de conceber esses testes psicotécnicos... baseados no esoterismo... "é um bocadinho perversa"... é mas é quase desrespeitadora e extremamente atraente. :)

Admiro a capacidade lançares e gerires esses assuntos sem dares a perceber que é um teste. Deve ser difícil ou então está mesmo... ap... apanhado :). A própria reacção perante o processo de testes é em si mesmo um teste. Deve ser o chamado meta-teste.

E tens um enorme cardápio de temas polémicos à disposição, em que não se espera a resposta politicamente correcta, nem a concordância completa (em importância e posição): touradas, aspecto físico, religião, direitos dos animais, relações de amizade entre géneros distintos, adopção de crianças por homosexuais...

Estive quase sempre a brincar, o equilíbrio razoável é teu, obviamente.

Confirmo também a identificação com pessoas que assumem e analisam as respectivas múltiplas dimensões, mesmo em simultâneo, porque inevitavelmente é o que somos (em doses variáveis), ainda por cima com uma organização tão científica. :)

1REZ3 disse...

Princesa,
desvantagem ou defeito para quem não quer perder tempo. Ou para quem não conseguir ver para lá dessa "capa"...
Sê quem és (adoro clichés...). A "verdade" virá ao de cima :)

CB disse...

Catwoman,
Talvez, para pessoas, digamos, mais "articuladas". Hoje em dia, parece que a maior parte procura coisas e pessoas simples, sem grandes complexidades, porque a vida "lá fora" já é suficiente complicada... Bjs

CB disse...

Mana,
Bons conselhos... :)) Não publicava porquê?... É bem verdade. Mornas e kizombas complementam-se, e é fundamental um equilíbrio saudável das duas. :)

CB disse...

fd,
O "rapaz" já parece ter é muuuito treino... :)
É verdade que o processo de conhecimento de alguém é "teste" porque se baseia sempre em perguntas e respostas, mesmo que as perguntas não sejam directas ou audíveis, e mesmo, até diria sobretudo, quando as respostas são reacções "impensadas".
Gostei da do "meta-teste"... Parece que um pouco de perversidade tem o seu quê de... estimulante... :)
Já usei muito desse cardápio mas ainda tenho mais umas na manga! Digamos que a verificação da hipótese vai em fase avançada mas subsistem ainda umas quantas reacções por determinar. :)

CB disse...

13,
Sim, tens razão, e é o que respondi acima à Catwoman. A verdade é o como o azeite, não é?... :)

1REZ3 disse...

Ainda em relação a isto (ainda não li o texto seguinte), presumo que sejas boa observadora e "leitora" de olhares e expressões (algo me diz que devo ir para além da presunção).
Assim sendo, tendo em conta que do outro lado está também alguém com experiência, alguém que deverá também conhecer as "regras dos jogo", não seria mais interessante observar o comportamento da outra pessoa perante tais "testes", in loco?
Talvez tentar perceber os temas provocam reacções entusiastas ou simples reacções de "quero é chegar ao objectivo, nem que para isso tenha que levar com estas coisas"?

(As coisas que me vêm à cabeça durante o dia...)

CB disse...

13,
As coisas que te vêm à cabeça, pelos vistos também passam pela minha. Por isso mesmo é que chamei ao grande teste do encontro o "polígrafo"... :)

Apple disse...

Estou tão entusiasmada com esta história... :D

CB disse...

Querida Apple,
A história até é mesmo entusiasmante... :D