O amor não existe



A propósito do Facebook, alguém me disse que, supostamente, os tais 6 elos de ligação da famosa teoria do “Six Degrees of Separation” equivalem à “distância” entre um Europeu e algum esquimó. Pensei então que, se calhar, era no Polo Norte que me esperava o Amor, sentadinho num igloo qualquer, já a desintegrar-se de tão enregelado.

Até há pouco tempo, pensei que fosse suficientemente louquinha para, se soubesse que o amor que queria viver estava no Alasca, apesar de detestar o frio e mesmo de nariz gelado, ir ao encontro do destino nesse igloo. Mas hoje sei que não. Hoje percebi que não sou assim tão louca – percebi, fria e tristemente, que já não acredito no amor. Acho que a minha insatisfação crónica, e o meu “azar” crónico com os homens, são produto um do outro, resultam de procurar o que não existe, e assim se traduziram em experiências que me tornaram céptica. Não estou disposta a correr a distância, ou o risco, para procurar uma coisa que agora acho que é uma quimera. De uma forma irónica, tornei-me quase no mesmo dos que sempre condenei, e hoje só sou capaz de olhar para um possível relacionamento com a frieza de quem aceita incontestável o facto de que o amor não existe mesmo – o que existe é tesão, a que chamamos paixão, mas que também dura muito pouco – dizem que 7 meses em média. E é incontestável que todos passam, tal como nós passamos pelos outros, e até o “amor apaixonado”, que dizem que se pode seguir à paixão e será, talvez, o mais próximo do idealizado “grande amor”, dura em média 3 anos. Não existe “para sempre” em nenhuma história, e muito menos o “felizes para sempre”. E há certas coisas que não se justificam se não forem no pressuposto da eternidade.

Essa promessa eu não posso fazer a ninguém, nem aceito que ma façam, simplesmente porque não acredito. Por ora, é apenas isso que ainda me distingue do que não queria ser – mesmo chocada por me ouvir e chocando quem me ouve, sou honesta, claríssima, transparente, não prometo nem quero promessas, não embelezo nada dando nomes falsos às coisas, e só vou a jogo nessas condições. E mesmo assim, só se for por aqui, porque não vou ao Alasca, ou à Austrália, por isso – é que não se justifica mesmo.

E o certo é que, munida desta nova convicção, se torna tudo muito mais fácil, muito mais simples e descomplexado. E acho que é só porque cheguei a esta conclusão que estou a dar hipótese a que alguém entre na minha vida. Depois do choque de parte a parte, a realidade é que uma situação clara, sem ilusórias expectativas, acaba por ser muito mais confortável para que se expresse numa relação a dois aquilo que nos é mesmo intrínseco. Talvez seja antes este o caminho, talvez permita alicerçar as coisas até com maior solidez. Mas seja como for, e dure o que durar, é autêntico desde o princípio. Pode até acabar com lágrimas de desgosto e saudade, mas não acabará com culpas nem com recriminações, e deixará memórias felizes de momentos bons vividos intensamente e descomplexadamente. Se é amor? Certamente que agora não. Será um dia esse tal “amor apaixonado”? Quem sabe? E por quanto tempo? Uma incógnita. Mas não me importa. O que é agora, é bom. E assim se mantenha (mesmo que se só esses tais 7 meses).

16 comentários:

catwoman disse...

Vai em frente se te sentes bem e enquanto te sentires bem, let it flow. Bjs.

1REZ3 disse...

Talvez seja isso, quem sabe? Por vezes dou por mim a refelctir sobre isso, para "repousar" e não pensar tanto nas coisas, mas por ora mantenho-me, talvez por determinadas questões.
Um dia, ou não...

De qualquer forma, se ajuda, vai em frente!

Paulo Lontro disse...

Antes de mais, eu já passei largamente essas médias e por isso, ou talvez por isso, não tenho a certeza se és pessimisticamente cristalina ou de um cristalissimo pessimismo.

É perigoso basear os sentimentos em experiencias que já não o são, foram, ou a expectativas que ainda não são, e podem vir a não ser, logo, que tal analisares a situação caso a caso e sempre no presente?

Se este pensamento é óbvio para o passado, passará a ser óbvio para o futuro se pensares que o futuro é o presente que ainda vem.

:)

CB disse...

Catwoman,
É mesmo isso que, finalmente, consigo fazer agora: go with the flow. E por enquanto sabe bem, sim. Bjs

CB disse...

13,
Estou aqui a tentar perceber exactamente a que "isso" te refres. Será o título? Ou será a conclusão?
De qualquer forma, já estou a andar em frente, e sinto-me mais segura que nunca.

CB disse...

Paulo,
Como sempre, os teus comentários obrigam-me a uma reflexão muito mais lata do que o assunto específico do post. É bom.
Acho que percebo onde queres chegar. De facto, este texto é em si mesmo passado e presente. Curioso que apontes as dimensões temporais da questão, porque o primeiro esboço do texto já foi escrito há umas semanas, mas depois larguei-o e só voltei a ele num momento, de presente, que não imaginava na altura, e que acabou por lhe dar contornos algo diferentes. O texto inicial, embora inacabado, era muito mais ácido. Era mais definitivo. Além de ser o tal montinho de paradoxos, sou também ser em evolução. Se há meses acreditava piamente na existência do amor, agora não acredito. Dei-lhe outro nome, dei-lhe outro contorno, dei-lhe outra relevância. No fundo, o que vivi recentemente permitiu-me perspectivar uma série de coisas e, com isso, ajustar uma série de pensamentos que acabaram por se traduzir, também, numa nova postura que, ironicamente, acabou por permitir suavizar a conclusão do texto, embora ainda mantenha que "aquele" amor de que tanto falei, que tanto procurei, realmente não existe.
Mas entendo muito bem o que dizes sobre não tornar demasiado "óbvios" certos raciocínios, pois com isso posso estar a comprometer o futuro. Posso acabar por fazer um caminho inverso ao que descrevo acima, ou fazer esse caminho pela via da negatividade.
Obrigada. :)

1REZ3 disse...

A conclusão. O título (chamem-me otário) tenho que acreditar. Tal como já o disse anteriormente, acredito que há pessoas com capacidade (e disponibilidade) para tal.
E acho que o centro da questão é isso mesmo: a disponibilidade. E algo mais que neste momento não importa partilhar.

Assim sendo, ainda bem, o que importa é isso mesmo, estares bem contigo mesma.

CB disse...

13,
Acho que acertaste na palavra: disponibilidade. Porque isso também pressupõe abertura de espírito para encontrar a "coisa" e a "palavra" que realmente exista.

1REZ3 disse...

O problema, Princesa, de se ter banalizado a relação é que com isso veio por arrasto a banalização de tantas outras coisas, entre elas o tempo.
A procura do efémero tornou-se tão imprescindível que o resultado está à vista, a infelicidade ou insatisfação crónica (sem qualquer alusão ao escrito no texto).

Muitas vezes esquecemo-nos que a felicidade se constroi, se molda, dois a dois, e não que é algo que nos calha como que numa rifa.

Já estou a divagar (que tendência...) e por esta altura já melhor que eu saberás que o que digo pouco sentido faz. Aguardarei pelo próximo texto :)
Boa noite, Princesa.

fd disse...

Seduz-me o Carpe Diem, a ideia de jogar com as cartas para cima, a ausência de promessas, e que ambos os lados tenham estofo para isso.

A gestão das consequências para as crianças e a educação sobre a perda da inocência dos contos de fadas é que são bastante mais complexas e dolorosas.

CB disse...

13,
Percebo o que dizes, mas não é o que considero que fiz ou esteja a fazer. Não "banalizei" nada, apenas decomplexei e concordo inteiramente que a felicidade se constroi. É nesse snetido o meu último parágrafo. Acho pelo contrário que, ao retirar o controloo ao destino e ao deixar de acreditar que essa coisa extraordinária e transcendente resolve tudo, e que só não resulta se não é "amor idealizado", assumindo responsabilidade, talvez se consiga efectivamente construir algo mais sólido. Não sei que nome lhe hei de dar, mas descubro-o quando lá chegar.
Fazes muito sentido sim senhor.

CB disse...

fd,
O estofo faz-se da vontade. O que é preciso é que ambas as vontades sejam genuinamente coincidentes.
Já em relação às crianças, suscitas-me 2 contra-comentários. Não quero matar o sonho dos inocentes, retirar-lhes a oportunidade de poder acreditar e até, quem sabe, ser feliz. Também não contribuirei, no entanto, para alimentar falsas expectativas. Cabe a cada um descobrir em si o seu caminho. Por outro lado, não o farei com a imposição do modelo da minha vida. Deixar entrar alguém na minha vida não significa, necessariamente e muito menos imediatamente, deixá-lo entrar na vida do meu filho. Não sei se era por esse sentido o teu comentário sobre crianças, mas foi a corda que tocou aqui.

fd disse...

O comentário sobre as crianças era mais ou menos nesse sentido. A tua interpretação complementou-o. Era virado para a brusquidão de "matar o sonho dos inocentes", para a preocupação, gestão ou constatação da inevitabilidade das crianças perceberem ou irem percebendo, com protecção, que a vida não são os contos de fadas que tão facilmente são divulgados ou vendidos.

1REZ3 disse...

Por acaso era mesmo geral, não me referia a ti em específico.
Não me parece que tenhas banalizado - porque para o fazer é preciso muito mais do que dizer que não se acredita no amor -, apenas me parece que arranjaste uma forma de "descontrair". Sim, porque o amor existe. Estejas a negá-lo ou não, isso já é coisa que pouco importa para aqui.
Time will tell...

CB disse...

fd,
Eu acho que as crianças, quer queiramos quer não, já vão sendo expostas a essas realidades desde muito cedo. Sobretudo, como é o caso do meu, quando são filhos de pais separados.
Mas se não há como evitar que percebam que nem todos os casamentos são eternos, não têm de ser expostas às eventuais desilusões com a procura de novo companheiro(a) dos pais, e sobretudo não têm de ser expostas a novas percas emocionais e afectivas. Se um relacionamente não é suficientemente estável, não me parece boa ideia fomentar a integração da outra pessoa na "família", pois uma possível separação também vai custar à criança, sobretudo se se afeiçoar ao novo elemento. Nesse sentido, tenciono proteger o meu filho o mais possível.

CB disse...

13,
Também me parece e, de facto, só o tempo poderá provar a minha teoria ou fazer-me reequacioná-la. Por mim, há certas coisas em que gostava de estar errada, e nunca me importei de assumir um erro, desde que devidamente comprovado.