Às vezes...



Mais do que as palavras que se ouvem, conta a intenção que as dita. Nem sempre é fácil descortiná-la, mas às vezes trespassa-nos com uma imensa claridade. Podemos preferir negar-lhe a visão, seja porque nos magoa, seja porque não é o que queríamos ver ou não é o que pensamos que íamos ver. Mas às vezes... também é capaz de nos estampar um sorriso e elevar na onda dos sentimentos próprios de uma surpresa feliz.

Mais do que um “gosto de ti”, que qualquer um pode dizer ou escrever sem verdade, falam palavras que se traduzem em “vejo-te e sinto-te, entendo-te”. Mais do que um ramo de rosas comprado à pressa na esquina, falam gestos que nos mostram que alguém nos leva em pensamentos pelos seus dias. Mais do que uma qualquer desculpa por alguma falha, vale a preocupação de que entendamos que não há intenção de falhar, e um pedido de desculpas preocupado que nos surpreende, porque até achamos que não houve falha nenhuma. Mais do que um “tenho saudades”, fala a prova de alguém que muda o impossível, e vai chegar ao fim do dia exausto, para ganhar o tempo de nos ver e poder dar um abraço. Com um sorriso tão genuino e um olhar tão ternurento, que chega a doer reconhecer que não se esperava, que se desenhava essa pessoa como algo muito menor, à imagem e semelhança dos pequenos seres que popularam o passado.

Sinto-me muito menor que ele nestas tremendas generosidades. Confortavelmente instalada atrás dos muros que ainda imponho, no egoísmo do meu castelo só para mim, e ele a bater suavemente à porta, mas determinado e a todas as horas do dia, feliz com a possibilidade de poder provar que é digno de entrar, ciente das defesas e das reservas, mas confiante de que as ultrapassa. Já entrou, mas ainda não sabe bem o quanto, que ainda tenho medo de lhe dizer que tem a chave. Mas vou tendo vontade. Sobretudo quando me diz que, aconteça o que acontecer, sabe que não se vai arrepender. E não é ingenuidade, que já não tem idade para isso. É... confiança, ou esperança, ou fé. Que parece ter que chegue para os dois. Às vezes... que coisa... até dá vontade de acreditar também.

12 comentários:

Apple disse...

Acredita...

Beijos

CB disse...

Apple,
Às vezes quase...
Bjs

Paulo Lontro disse...

A história é a mesma mas, tal peça de teatro da vida, a cada dia muda a cena e o cenário. Confirmo a alerto que só se pode viver o dia, a cena presente.

É que nunca terás a certeza que a chave foi entregue à pessoa certa, mais tarde, ou mesmo muito mais tarde, quem a merece hoje pode não merecer depois.

Tal como quem acredita que quer e pode entrar na tua porta, hoje, poderá ser o detentor da decisão de sair pela mesma porta que entrou, devolvendo a chave em bom estado de conservação.

Alimentar egos não alimenta a alma, nem funciona como catalisador, aumentando velocidades de reacção entre reagentes já conhecidos, pois sempre existiram, e não há muito espaço para inovações na química da vida.

1REZ3 disse...

Ainda não tinha chegado ao fim e era como se te estivesse a dizer: "acredita no que vês".

É estranho, mas "disse-o" porque me revi nessa vontade verdadeira (episódio passado e já esquecido).
Às vezes, Princesa, tudo o que é preciso para alguém assim é que a pessoa que está à sua frente acredite.

Espero que tal atitude seja verdadeira.

CB disse...

Paulo,
Essa gestão do tempo interior e físico em paralelo é o maior desafio. A cada dia, ou a cada cenário, vive-se o presente e projecta-se o futuro, ao mesmo tempo que se acumula passado. E o que é hoje não será amanhã, e o futuro é e será sempre incerto. Bem verdade que entregar a chave não é garantia que o outro a queira para sempre. E por isso mesmo entregá-la significa, também, estar disposto a correr o risco da sua devolução. O "estado de conservação" em que será devolvida é uma total incógnita.
Quanto aos egos, pois concordo que não são sustento. Mas não se pode deixar de reconhecer que se alimentam, também, com essas outras químicas. Mais do que fazer bem ao ego, a mim estas coisas têm tido o poder de me encherem de ternura e de mais umas quantas coisas boas que apetece reciprocar.

CB disse...

13,
Também eu espero... E tens razão - por vezes alguém que acredita e o demonstra é o que é preciso para nos fazer acreditar também que pode ser diferente do que o que conhecemos de trás.

Paulo Lontro disse...

Tenho-me dedicado a estudar um pouco esse tema do "Presente" e de como podemos melhorar a nossa qualidade de vida se o vivermos bem. Estes conhecimentos não anulam nem o passado nem o futuro mas mostram que o teu presente não se altera nem por um nem por outro.

Se um dia quiseres entender um pouco mais podes começar pelo livro de Eckhart Tolle, "O Poder do Agora"

Não é tão espiritual como parece à primeira vista.

:)

CB disse...

Paulo,
Obrigada pela sugestão que me despertou muita curiosidade. O busílis da questão é o que significa viver "bem" o presente... Mas intriga-me que se afirme que o presente não se altera pelas outras dimensões do tempo, porque se vive muito e tantas vezes em função do passado (lições, experiências, etc) e é a forma como se vive que em grande medida forja o futuro que teremos pela frente. Mas eu sou uma ignorante assumida nessas vertentes menos racionais e lógicas, por isso acho que tenho mesmo de procurar o livro. :)

Paulo Lontro disse...

:)

Eu entendo-to muito bem.
É pouco obvio pensar que se pode viver o presente sem a imagem do passado e a antecipação do futuro.

Na realidade o passado inspira-te, mas também te limita pois podes ficar agarrada a experiencias um pouco mais negativas ou que pelo menos te desiludiram, ficas a acreditar que não és capaz de voltar atentar, diz-me lá se isso não é uma limitação dada pelo passado.

Quanto ao futuro, ele alimenta medos, ou pelo menos faz-te antecipar situação, boas ou más (medos), situações essas que poderão nunca acontecer, no entanto elas limitam-te pois tens medos delas. Como vês o futuro que ainda não existe também te pode limitar.

Não é fácil fazer-te entender porque eu não tenho a capacidade de ser tão claro como é este autor.

Para antecipar alguns conhecimentos, ouve com atenção e com calma este vídeos quando tiveres tempo e não fores interrompida.

http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=40028824

Depois, se gostares, envio-te coisas mais divertidas e bem mais práticas de outros autores.

CB disse...

Pois é isso mesmo que dizes que eu "sei" que acontece, Paulo... São esses medos todos, os que nos condicionam e os que criamos/projectamos que tornam esta gestão do tempo tão difícil. E sempre me assumi limitada pelo passado, sei que todas as minhas defesas são medos, que tenho hoje ainda, e até se calhar começo a ter outra vez mais.
Vou ver o vídeo com atenção como recomendas. Obrigada! :)

Paulo Lontro disse...

Fica a saber que é possível viver o presente sem esses limites!
:)

Mandei-te um e-mail.

kiss
:)

CB disse...

Obrigada Paulo. Acabo de ver e já te vou responder.
kiss :)