Os Poetas


Solitários pilares dos céus pesados,
Poetas nus em sangue, ó destroçados
Anunciadores do mundo
Que a presença das coisas devastou.
Gesto de forma em forma vagabundo
Que nunca num destino se acalmou


Sophia de Mello Breyner Andresen

12 comentários:

Anónimo disse...

Mana, porque é que eu sou tao miope com a poesia?

Porque é que estas belíssimas palavras de Sophia me remetem para a Etiologia, tipo assim ..olha, sabes o que é um ser deprimido???

Toma lá um homem que se sente Atlas com o peso do mundo, de pele lapidada pela dor, vociferando roucos os seus "Dós", perdidos sem "clave" nem "Sol", "Lá" num ermo feito craquelé de alma sem restauro, em abandono triste e afagando a dor com a sua gibóia..

Achas que os poetas são assim tão tristes??? Eu espero que não mana, que tu tens uma costela e eu gosto de te ver radiante. :-)

CB disse...

Mana,

para mim não é nada disso. O que isto traduz para mim é que uma alma de poeta é uma alma com uma sensibilidade diferente, que não só se despe mais e escava mais fundo em si que outros, como também sene com maior intensidade tudo o que o rodeia. E por ser assim, sofre mais intensamente, busca mais incessantemente. O que o torna solitário, vagueando pela vida, e eternamente em busca da perfeição.

Ao contrário de ti, neste poema cheiro uma certa ternura.

Quanto à minha "costela", está lá sim, mas da mesma forma que me faz sofrer intensamente, também me faz amar "radiantemente". :)

fd disse...

Só percebi, ou consegui começar a tirar significado, à terceira leitura... mas valeu a pena. As palavras estão lá.

CB disse...

fd,
A poesia é assim. Às vezes, intui-se tudo à primeira leitura, outras vezes, é preciso ler e reler, muitas vezes, até perceber como tudo se encaixa, como se articulam as palavras de modo a traduzir o sentimento.

LBJ disse...

As Poetízas...

Beijos e bom fds

Anónimo disse...

Mana,

Assustas-me então perante o meu reflexo turvo.

Porquê, na tua opinião, ser a alma de poeta aquela que sente mais, que vai mais fundo, que se perscuta melhor, que apreende o caroço com mais sensibilidade, que procura , ouve, tacteia e incorpora de modo mais sublime e almeja mais longe e melhor e mais perfeito numa procura sem tréguas? Diz-me tu mana querida, Tu que tens a dita veia de poeta eu não, diz-me, serei eu então pusilânime? no sentido de pequenez de alma pela minha surdez ou falta de voz amplificada no magnífico que será o verso?

...Redondinhos, eu sei :-)

CB disse...

LBJ,
E aos poetas. :)
Bjs e bom fds

CB disse...

Mana,

E quem te diz a ti que não tens uma costela? Talvez não a tenhas ainda descoberto nos escritos dos outros. De qualquer forma, o que escrevi não quer dizer que "só" os poetas possam sentir tudo como descreves. Mas todos os poetas sentem. E a principal diferença para quem não é poeta está numa coisa de que não falas: os poetas fazem esse caminho de forma muito mais solitária. Não és mais "pusilânime", mas é mais "gregária" talvez...

Redondinhos... :)

Anónimo disse...

uhmmm, achas mana?
acho que também não é bem por aí, eu não sou assim lá muito gregária nessas coisas...
Mesmo assim, admito que o ouvido possa ser selectivo e eu não seja uma estrofe perdida. Enfim , em repto, não desistas de mim, que eu vou tentando lá chegar :-)

Paulo Lontro disse...

Esta Sophia M.B. e o David Mourão Ferreira fizeram-me ver a luz na poesia.

(apenas excluo o tipo de poesia de Pessoa e Mário Sá Carneiro, que são de um estilo e classe especial)

CB disse...

Mana,
Eu acho sim. Tu não és "solitária". Tens os teus momentos de mergulho interior, mas depois fazes realmente o caminho com companhia.
E eu não desisto, claro que não! Um dia ainda te vou ver "vibrar" com o poema certo para ti. :)

CB disse...

Paulo,
Depende muito dos poetas, é bem verdade. Também há alguns que não me dizem grande coisa e outros que parece fazem parte de mim desde a primeira estrofe. E sem dúvida que Pessoa é mais do que um poeta, e embora goste de Mário Sá Carneiro, não conheço tão bem porque nem tudo dele me inspira da mesma forma.