"Destilar", cientificamente, é "separar componentes químicos que constituem uma substância através de vaporização seguida de condensação". Serve para muita coisa, nomeadamente, para produzir bebidas espirituosas. Aqui, é uma tentativa de purificação da mistura de tudo o que sinto, penso e vivo. A aguardente do que sou.
Andando
Tenho para aqui um monte de linhas soltas a popular uma página desorganizada. Uma série de ideias, de pensamentos, coisas que me andam na cabeça a rodar e que ainda não consegui destilar. Apetece-me escrever, mas não sei por onde começar.
Partir e voltar tem duas chegadas e dois destinos, mas divide o tempo em três – antes da partida, na duração da viagem, e no regresso à base. Do primeiro tempo está tudo aqui, mais que escrito e destilado. Do segundo tempo, tenho as fotografias e as memórias, envoltas numa bruma estranha ao som de kizomba, e que não se encaixa na linearidade que habitualmente damos ao tempo. Parece que não fui eu que estive lá, parece quase que não foi real. E o terceiro tempo, que corre agora, ando ainda a aprender a contar, e tenho dificuldade de o apreender antes de se evaporar.Tanto o tempo em que estive lá como estes três dias desde que regressei me sabem a passado longínquo. Estranhamente, enquanto lá estive, parecia-me que o tempo não passava, e agora que voltei, acho que foge de mim como um louco, ou me empurra desvairadamente para um lugar estranho.
Ocorre-me que são novos caminhos, que não seguem os trilhos conhecidos e expectáveis dos mapas que já sabia de cor. Desembarquei do avião uma outra, por duas vezes, e a cada aterragem deparei-me com essas novas realidades. Sei que o mal destas linhas soltas aqui espalhadas, a razão porque não consigo articulá-las, é porque misturam esses três tempos, esses três eus em que me plasmei. Tenho de apagar umas quantas linhas que já não pertecem ao aqui e agora de mim e da minha vida. Quero separar umas outras para marcar a memória, e quero fazer as restantes crescer, com o passar dos dias, passando de linhas e parágrafos a textos consequentes, à medida que se define o meu novo contorno, num traço mais nítido, a cada passo em frente.
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3 comentários:
Entre o ir e o voltar, temos o estar; e por vezes está-se tão bem que depois é dificíl articular o que queremos é o querer dizer tudo e o sentir que não dissémos o bastante ou então que dissémos demais. Já deu para notar que hoje estou num daqueles dias de questões filos´ficas sem razão de ser, não é? Beijinho.
Silvana,
Bem vinda aqui. Já espreitei o seu blog e vou lá voltar com calma.
Catwoman,
Por aqui podes filosofar à vontade. :)
É um pouco por aí, talvez, no sentido de ser difícil precisar se já se disse demais, ou se ainda não se disse o suficiente, de um tempo acabado. E enquanto não se resolve essa questão, não podemos dizer muito sobre o presente.
Beijinho
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