Engatar ou cortejar?



As mulheres passam a vida a queixar-se que os homens, hoje em dia, são uns atadinhos, que não tomam iniciativas, que não sabem o que querem ou que têm medo de se assumir na conquista “activa” de uma mulher. Partilho dessa opinião, e também me tenho queixado do mesmo. Por outro lado, queixamo-nos dos tais homens-melga, que também não gostamos de insistências idiotas, sobretudo quando não estamos mesmo interessadas e eles não há maneira de perceberem.

E agora cai-me no colo um homem que sabe claramente o que quer, que assume frontalmente uma postura de conquista, e me faz um cerco cerrado. Ele é Face Book, ele é Messenger - e longas conversas, números de telefone trocados – e usados, e um convite para jantar com direito a dança a seguir, “até nascer o sol”.

E o que é que eu acho disto?... Acho piada. Gostei dele, conversamos imenso no dia em que nos conhecemos, através de uma amizade comum. Temos afinidades diversas, é certo, somos ambos pais divorciados e por isso entendemos bem essa dimensão especial das nossas vidas, e ele não se “assustou” com a minha vida complicada. É um homem maduro, inteligente, gosto da conversa dele e do sentido de humor. Mas...

Isto é rápido. Muito rápido! Jantar a dois assim sem mais nem menos assusta-me um bocado. Resolvi aceitar o convite, mas felizmente, por um acaso do destino, afinal não seremos só dois. E fiquei aliviada mas a pensar porque é que me havia de assustar com uma postura que é frontal, honesta, afinal aquilo que advogo que todos devemos ser uns com os outros. Desde que não haja leviandade na abordagem, o que é cedo para determinar, é assim que acho que devia ser. E também desde que não se torne demasiado “pavão”, que não há paciência para shows de vaidade nesta idade... mas o certo é que ainda não sei se a ideia dele é "engatar" ou "cortejar" - e são coisas muito diferentes.

Até agora nada me faz crêr que ele não seja boa pessoa (até porque as “referências” são muito positivas). Mas o certo é que me custa acreditar em pureza de motivos. É que neste novo caminho, ando sem ilusões de contos de fadas e princesas. Ando a escrever linhas novas sem poesia, e já não espero milagres. A questão é se me terei tornado demasiado céptica, ou antes absolutamente lúcida.

24 comentários:

fd disse...

Passei por aqui por acaso e identifiquei-me com o que li, especialmente com a clareza, o “desencantamento” e a transparência (frontalidade). Fiquei ainda atraído pela pseudo (por não poder ser completa) abordagem científica que fazes dos assuntos, incluindo o que expões neste post. Aproveitando a terminologia, que te deve ser familiar, acho que vai ser mesmo a química a resolver as dúvidas. ;)

CB disse...

fd,
Antes de mais, bem vindo e obrigada.
Quanto à "química", pois será certamente muito importante, mas nem sempre determinante. É que até estas reacções químicas dos humanos passam pelo cérebro, e aí habita também a razão. :)

1REZ3 disse...

Only you can determine that, dear Princess.

Não há fórmulas mágicas (por acaso até há - compromisso e sinceridade) nem futuros "visíveis".
E agora?
Terás que lá ir sempre. Protegida ou não, já vai ser contigo.

Sei que esperas também que te "ajudem" a destilar, e podia dar-te a perspectiva e a decifração dos homens mas aí estaria a ser injusto perante os que agem correctamente e, nestes casos, "infelizmente"you're on your own... Sorry.

Boa sorte, como sempre, nessa procura do algo extraordinário :)

CB disse...

13,
Obrigadinha... :)
Anyway, o tercero parágrafo é um pouco preocupante. É que se sub-entende que a "perspectiva e a decifração dos homens" que me poderias dar não é a dos que "agem correctamente"... :S
E olha que agora já não procuro nada de "extraordinário". É essa a consequência do cepticismo, ou da lucidez.

fd disse...

Princesa, a linearidade da razão é curvada pela força das emoções.

Só estou mesmo a provocar-te. :) Percebi a mensagem. É importante manter o controlo, ganhar confiança e evitar desastres. No entanto, como diria o António Damásio, distorcendo um pouco, é a emoção que nos faz avançar mesmo quando julgamos estar no campo da razão. Acho que não vale a pena invocar equilíbrios, deves conhecer bem a necessidade de os ter e a beleza de os perder.

Eh lá, isto está a sair poético e não estou a citar, conscientemente, ninguém. E desculpa a familiaridade de te tratar por princesa. lol

1REZ3 disse...

Esse terceiro parágrafo somente tem a ver com algo que li ontem que foi escrito apenas por reflexo, nada de mais. Não metas nada na cabeça, sff :)
Não estou a dar nenhuma deixa sobre a pessoa em causa, porque o que digo é que podia começar a divagar à volta disso. E até porque ele pode ser dos que agem correctamente, não sei. Não posso julgar intenções e muito menos quem não conheço.

Compreendo o teu receio, porque dá para ver que dás muito de ti e a tendência - apesar de acharmos que não pela experiência acumulada - é caso corra mal (não estou a aludir a nada) sofreres mais ainda. Mas a vida é isso mesmo (grande chavão, hein?).
A única coisa que posso aconselhar (não crendo que precises) é não investires tudo e teres a certeza absoluta da história completa dele(aqui já é algo que se passou comigo). O resto é contigo.
Mais uma vez, desculpa se não é possivel mais.

CB disse...

fd,
Ui, tanto que havia a discutir sobre o que é que manda no quê no meio do nosso cérebro... É certo que há emoções que nos comandam, que suplantam a razão ou que são o ponto de partida para o que racionalizamos (às vezes sem o perceber). Mas não somos animais selvagens, somos animais pensantes que aprendemos a procurar esse tal equilíbrio de que falas, embora seja verdade que os momentos em que nos deixamos ser apenas a nossa natureza primordial e sensitiva são momentos de beleza especial.
Obrigada pela "provocação" e pelo poético do comentário. :)

PS: Por aqui sou mesmo Princesa, e assim me tratam todos os que têm a amabilidade de deixar um contributo para o meu destilar. Nada a desculpar, portanto.

Paulo Lontro disse...

O texto é cristalino como a neve, se ele o ler estará tudo resolvido.

Absolutamente lúcida dá a ideia que estás mas se ainda tens duvidas quanto ao cepticismo, pois te digo, também ESTÁS !!!

:)

CB disse...

13,
Claro que, como em tudo, há bons e maus, há os que agem "correctamente" e os que não. E isso só o tempo e a convivência irão esclarecer. E obrigada pelo conselho - nada a desculpar. :)

CB disse...

Ai Paulo! Que difícil responder ao teu comentário!...Ele não lerá o texto, que nem sabe que tenho um blog. Mas o teu comentário pôs-me a pensar que ele terá de "ler" isto mesmo de uma outra forma qualquer.
Lúcida e céptica simultaneamente, talvez a segunda em resultado da primeira. Mas demasiado cepticismo sei que também é mau e pode, perversamente, não permite uma real lucidez... :)

Paulo Lontro disse...

Aí está…, se o cepticismo for exacerbado as coisas complicam-se, podes perder oportunidades.

Mas a pergunta é, o que se ganha com o cepticismo?

Por acaso tens as respostas às dúvidas mais cedo?

E essas respostas, serão seguras, como terás a certeza que a avaliação foi correcta?

:)

CB disse...

Paulo,
Mais uma difícil... O que se ganha com o cepticismo é uma certa segurança - questionar tudo, não aceitar nada como certeza, obriga-nos a fazer o percurso com mais cautela. Mas tens razão que também se podem perder oportunidades e a questão da correcção da avaliação racional é pertinente... :)

Paulo Lontro disse...

HHuummm, o cepticismo dá segurança…?

Será?

Põe a hipótese do cepticismo ser medo, entendendo o medo como uma antecipação do futuro, um futuro que, obviamente, e comparando-o com “passados” menos agradáveis, te assusta.

Não estarás, pergunto, a antecipar negatividades que podem vir a nunca existir?

Não estarás a perder liberdade?

Aquilo que chamas “segurança” reflecte uma perda de liberdade de acção, e em nome de quê?

Se viveres o momento ou melhor se viveres momento a momento, passo a passo, as conclusões vão sendo tiradas, sem risco de pré-conceitos limitadores que evitam os passos seguintes, logo tiram liberdade.

Sem querer tornar isto muito espiritual, eu sou muito prático (às vezes parece o contrário...), dá uma vista de olhos neste vídeo, fora do contexto deste pessoa, se o não conheceres, vai parecer estranho mas ele é muito lúcido e os seus ensinamentos são muito libertadores.

http://www.youtube.com/watch?v=V3miuaOWsj8

fd disse...

Princesa, lamento estar a monopolizar os comentários, tornando-os num fórum de discussão. Não vai "ajudar" mas gostava de incluir uma citação, daquelas que não nos largam...

"o amor é provavelmente a última coisa em que o céptico ainda pode acreditar"
José Saramago - História do Cerco de Lisboa

CB disse...

Paulo,
Obrigada pelo link.
O cepticismo resulta do passado, sim, na construção, ou desconstrução, daquilo a que se chama amor. E há medo à mistura, sem dúvida. Tens razão que não é liberdade, porque essas vivências condicionam o que somos e como agimos, e até como lemos os outros. Por isso podemos ser injustos com os outros. É um risco que se core, mas a alternativa da crendice traz um risco mais doloroso...

CB disse...

fd,
Não monopolizas nada - acontece frequentemente e já escrevi algures que é uma das dinâmicas do blog que acho mais enriquecedora. Precisamente por ser "diálogo".
Quanto à citação, confesso uma embirração de estimação com o Saramago, e esta frase dele só mo confirma... É que se há coisa em que só com muita ingenuidade se pode acreditar é precisamente no amor...

Pulha Garcia disse...

Em frente, princesa. Mereces sorrir mas também tens que arriscar a tua parte...

All the best, ma dear

fd disse...

Princesa,

Então continuando o diálogo, confesso uma admiração de estimação pela obra do Saramago.

Eu, que me considero, simplisticamente, um céptico com sonhos momentâneos, quase com “dupla personalidade”, ou seja, uma contradição ambulante, e depois de ter perdido a fé em entidades superiores e quase nas pessoas, logo com pouco inocência, também interpreto a frase, adicionalmente ao sentido que lhe deste, como a constatação de uma utopia. Sendo o amor algo indefinível, para além da constatação dos sintomas, podemos lá projectar o que quisermos, quase para ir fingindo a nós próprios que temos em que acreditar e mantermos a esperança, que nos permite continuar por cá. Além disso, a palavra amor também se aplica a quem te corre pela casa. Sorry…

Já tinha dito que não ajudava.

CB disse...

Pulha, pois é a minha parte do risco que me desorienta. Obrigada.

CB disse...

fd,
Saramago à parte, a forma como te defines também me define a mim (embora não na totalidade). Mas, onde vês utopia e espaço/razão para ter algum tipo de "fé", eu hoje vejo apenas quimera. É verdade que amor é muitas coisas diferentes, e é também o que sinto pelo meu filho, que não contesto porque o sinto, mas que ainda assim não compreendo e muitas vezes me pergunto se não falha.
Ajuda sempre juntar um ponto ao conto da Princesa. Obrigada.

1REZ3 disse...

Princesa, Princesa...
Não posso conceber o facto de já não procurares algo extraordinário.
Não falo em contos de fadas, príncipes e princesas, isso não, que não nasci ontem, mas falo de algo que valha a pena.
Não falo de arriscares tudo com o próximo que te apareça, imaginando-o e "enfrentando-o" como se fosse "o tal", nada disso. Mas nunca, (NUNCA, leste?) deixes essa característica de lado.

PS: "Arrisquei-me" a escrever como se te conhecesse pessoalmente e com isso a parecer um parvo. So what?, I am :) Constroi e sê o sonho.

CB disse...

13...
Lamento desapontar-te, mas não há sonho. Uma coisa que "valha a pena", sem dúvida, continuo a procurar. Mas amor, "aquele" amor, isso já perdi a esperança que exista.

PS: Mais uma vez, não tens nada que pedir desculpa. És dos meus comentadores mais antigos, o meu primeiro seguidor (já te agradeci convenientemente??), e conheces-me por isso muito bem, embora não fisicamente que é o que menos importa. Acontece é que eu me vou transformado, como tudo, como todos, e talvez ainda esteja pouco escrita no que sou por estes dias mais presentes. E parvo é coisa que não és, sabes bem... :)

1REZ3 disse...

Princesa,
então que seja! Sonharei eu! Por ti também. Porque (no fundo, no fundo, porque à superfície é outra história) eu acredito que ainda há pessoas que valem a pena e que têm o que é preciso para lá chegarem ;)

CB disse...

13,
Então eu agradeço... :)