Revelações II

De resto, da noite de ontem, ficou-me também a admiração por alguém que abre generosamente as portas da sua casa a quem mal conhece, simplesmente porque gostou desse alguém. E um pé atrás por ser uma pessoa que admite claramente que ou gosta ou não gosta dos outros, e que se não gosta não perde tempo. Algo que me levou a pensar, mais uma vez, se não será demasiado redutor recusar aqueles que não têm o dom de nos atrair ou impressionar de imediato. Porque há alguém que, de tempos a tempos, após uma total desinteresse inicial, me faz curiosa de entrar mais, deixando escapar pequenas revelações que ora me intrigam, ora esclarecem, ora me me enternecem, ora quase me entristecem. E que perduram, por exemplo, quando sob um pretexto de circunstância, a sua mão procura a minha, envolvendo-a em voltas suaves durante um estranho minuto, mas que não me dá vontade de largar. E que depois me deixa a congeminar frases recorrendo a expressões como talvez, se calhar, quem sabe?

Ou talvez também seja porque detestava inicialmente uma das minhas melhores amigas - a que trago no coração há mais tempo e que resiste sempre apesar de algumas mágoas. Era recíproco, até um dia termos partilhado um desabafo que, insolitamente, desencadeou uma imediata compreensão recíproca, e num repente nos fez mostrarmo-nos por dentro uma à outra. E, como que em espelho, reconhecemo-nos o fundo, o que nos levou rapidamente a firmar um laço profundo.

Por isso acho que, embora eu também seja muito intuitiva e imediata nas empatias que estabeleço, também não sou totalmente incapaz de aprender a gostar de alguém. Num contexto de amizade ou até num contexto amoroso. E acho, também, que isso é resultado de não ser completamente inflexível, de ser capaz de admitir erros e mudar de opinião, e ao mesmo tempo capaz de perdoar ou tolerar diferenças. Alguma coisa me diz que, quem não é capaz de dar uma oportunidade a outro só porque a empatia não é imediata, também não será muito tolerante à incontornável necessidade de adaptação ao outro ou de eventual perdão de momentos menos edificantes. Gosto pouco de surpresas, mas as que são positivas sabem sempre tão bem que acho, ainda muitas vezes, que devemos dar-lhe uma hipótese.   

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