Promessas



Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos


(Sophia de Mello Breyner Andresen)

6 comentários:

Bípede Falante disse...

muito bonito, mas não sei se concordo...
vou pensar.
beijos

CB disse...

Bípede,
Há uma beleza única em todas as palavras de Sophia. Quanto a este poema, partilhe então a sua conclusão se puder, por favor, que talvez me ajude a digerir o meu próprio raciocínio que aqui, e daqui, se plasma...
Bj

Susana disse...

Também eu me identifico com este blog: mãe, recentemente de novo mulher, futura recente-divorciada, mãe de 2 pequenotes gigantes...

http://mamasusaninha.blogs.sapo.pt/

CB disse...

Susana, bem vinda aqui e obrigada pelo comentário. Farei uma visita em breve.

Bípede Falante disse...

Voltei ainda meio sem saber mas com uma sensação de que há algo errado nesse poema porque nós não abandonamos nada, nós nos afastamos mas nunca o suficiente porque as memórias são como imãs e as lembranças adoram nos dar porradas.
Sei lá, que eu ainda estou a pensar.
beijos

CB disse...

Bípede,
Vou escrever mais sobre este poema, mas acho que o que diz está lá também.
Realmente nunca abandonamos um amor atrás. Como diz Sophia neste poema, carregamo-lo, abandonamos tudo por ele, destruímo-nos até, "morremos em tudo o que sentimos". Mas... Ainda assim, apesar disso tudo, "podemos cantar" (repare é "se" isso tudo "e" cantamos), porque somos nós que alimentamos a nossa própria dor ("embalando a própria dor"), em nome desse amor, e mesmo quando uma manhã renascermos, (oh esperança...), a nossa alma irá alimenta-se ("beberá esse esplendor") do que passou, das tais lembranças que refere (no poema, as "formas que perdemos").
Um amor desses deixa-nos marcas para sempre, é inquestionável. O que mais extraordinário este poema tem, para mim, é a sugestão de que, apesar disso, é talvez mais no que perdemos atrás, do que no projectamos à frente, que encontraremos, um dia, a capacidade de reflorir. Por isso para mim é uma esperança, uma "promessa", como chamei o post.
Bj

(Isto ficou tão confuso, com tantos parêntesis e citações... As minhas desculpas!)