Cicuta minha

Gostava de te poder dizer e explicar tudo o que me vai dentro e faz ser como sou, sem ter de te contar detalhes de toda a minha história. É assim, aos poucos, através de pequenas coisas do dia-a-dia, que se descobre a verdadeira soma de tudo do outro, sem necessariamente nomear parcelas. Não é com as grandes revelações, os segredos concretos, com as sinopses analíticas do percurso de vida. Aliás, gostava de poder deixar para trás essa vida, esse percurso, sem hipótese de envenenar o futuro. Infelizmente, o seu veneno circula-me já nas veias e dorme comigo no escuro. Sei que te devo a verdade toda que é de mim, por isso te estendo o cálice em que me provas aos poucos com um aviso: sobrevivemos se és sincero, porque a minha verdade é veneno, mas um verdadeiro amor é antídoto.

(E entende: tanto é amor provar do cálice do outro sem medo, como estender o nosso.)

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