Verdade

Um dia, vou ter de te dizer que o que mais me custa é a mentira ou uma promessa quebrada. Vou ter de te revelar que abomino a primeira e já esgotei a cola para a segunda. Vou ter de arranjar forma de te dizer que prefiro sempre a limpidez da crua verdade, porque não gosto de ilusões, não gosto de enganos, nem de piedade. Gosto de saber com o que conto, gosto de pensar que possúo os elementos para me poder guiar com segurança. Também vou ter de te dizer, de alguma maneira, que prefiro a surpresa de um inesperado à falha do projectado. Vou ter de te explicar que uma mentira me ofende a essência. Insulta-me a inteligência, diminui-me e faz pouco da minha capacidade de resistência. Porque não te iludas tu: eu procuro sempre a verdade, tenho um faro apurado e resisto sempre, por maior que seja o abalo. Vou ter de te explicar, também, que uma promessa é um desenho de futuro que levo a sério e falhá-la é obrigares-me a pôr um pé em falso. E prometo-te: se me fizeres cair, eu levanto-me, mas não contigo. Por isso, não te acobardes nunca com nenhuma das tuas verdades e não me prometas, nunca, o que não irás cumprir. Não perdoo e imponho castigo. Aceito apenas desculpas do que seja inesperado e inevitável, desde que a promessa seja feita com sinceridade, ou - lá está - se não me faltares à verdade. Mas tem em conta, por favor, que eu sou literal com as palavras que uso e oiço e, na minha bitola, tanto vale uma mentirinha piedosa como a falta de prometido amor.

2 comentários:

Bípede Falante disse...

Entendo tão bem esse ponto de vista. Não há nada que me aborreça tanto quanto me tomarem por cega, surda, muda e burra.
Beijo

CB disse...

Bípede, é mesmo enfurecedor.
Beijo