Escape

Tenho palavras a navegar ao sabor de uma corrente que não corre para lado nenhum. Palavras que não se conjugam, não se concentram, e andam simplesmente à deriva, dispersas ou suspensas numa espuma sem consistência. Geralmente, escrevo-me para me me entender. Para me reflectir num espelho para onde possa olhar e onde me possa ver. Com contornos que assim reconheço meus, limites visíveis do que me sei, minhas cores e sombras que vejo pelo que projectei. Mas falta-me agora a arte de filtrar esta espuma, falta-me a coragem de juntar os fragmentos, falta-me o espaço para montar o puzzle do que realmente se reflectiria no espelho - e que agora não quero olhar. São muitas as construções a que estes fragmentos pertencem, demasiadas frentes de mim abertas ao mesmo tempo. Deixo-os flutuar, mais um bocadinho, enquanto me recolho na recusa, na segurança do silêncio.

(Há dias em que a vida seria muito mais fácil com uma opção de "press Escape to return to the main screen".)

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