Compensada

De emprego novo recente, para além de andar numa vida louca de trabalho intenso, não tenho férias este ano. Faço-as dos fins de semana, que aproveito da melhor forma possível. Primeiro, a visitar o meu filho, que tive de mandar com os avós, e tentar enfiar naqueles curtos dois dias tudo o que não cabe em mim de uma semana inteira de ausência. Mesmo sem querermos, acabamos por sofrer o impacto da lei das compensações. Com ele, não é tanto os brinquedos e as tralhas todas que quer comprar, mas os mimos, os abraços e as histórias ao deitar. Agora que está com o pai de férias, esse curtos dois dias são para aproveitar de outra forma. E este fim de semana lá fui, rumo ao sul e ao sol, com mais três amigas.

Com montes de trânsito à mistura, e alguns desaires pelo caminho, acabei por me divertir, gozar a praia sem pás e ancinhos, sem chuvas de areia e sem horas, gozar as noites (e também uma de descanso a compensar a outra de animação), a companhia e as conversas de tudo e mais alguma coisa. De nós as quatro, duas com namorado em Lisboa, e duas sem namoros no horizonte. Somos as mesmas, independentemente do que vai passando na nossa vida. Mas, e talvez seja esse um dos grandes desafios de todas as relações, há momentos em que simplesmente não nos alinhamos da mesma forma. Sobressaem em nós coisas diferentes, que não é que não sejam nossas, que não estejam lá sempre, mas assomam com maior ou menor intensidade conforme o que vamos vivendo. Talvez, digo eu, conforme o que nos falta ou o que ganhamos. É bom quando, ainda assim, a amizade subsiste. Aliás, acho que assim se pode fortalecer. Mas não deixou de ser curioso notar que, apesar de nos termos divertido todas, é claríssima a distinção entre o que priveligiam umas e outras, em vários aspectos, nessa coisa da compensação.

E hoje, depois de um telefonema cheio de lágrimas durante o fim de semana, fui compensar o meu filho ao fim do dia, que já está cheio de saudades e só quer é saber quantos dias faltam para voltar para casa da mãe. Dizia-me que tem saudades minhas e que já não quer ficar com o pai assim tanto tempo. Tentei lembrar-lhe que agora é a vez do pai e quando lhe disse que depois tinha saudades dele, como diz tantas vezes quando está comigo, respondeu que não, que "é só às vezes", e que "agora" tem saudades da mãe. Percebi-lhe tão bem a angústia de não poder ter os dois ao mesmo tempo, e de não querer ter saudades de nenhum dos dois no mesmo momento. A necessidade de equilíbrio, no fundo, a necessidade de compensar. Se a nós custa tanto com outras tantas coisas, como é que não há de lhe custar a ele?

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