Inconformada


Uma vez ouvi um Padre justificar a manutenção da virgindade até ao casamento de uma forma extraordinária. Dizia ele que assim não haveria no casal termos de comparação, o que tornaria o que quer que fosse a vida sexual dos dois absolutamente incomparável. Sem frustrações, sem desilusões, sem insatisfações.

À parte o que se pode argumentar contra esta tese, e pode muito, fica a questão genérica: a ignorância pode ser uma benção? Às vezes penso que sim. Se não soubesse o bom que pode ser, o medíocre chegaria. Se não soubesse o que é Amor total, um afecto menor seria suficiente. Se não soubesse o que é ser feliz, um contentamento morno bastava-me. Assim, o medíocre é apenas medíocre, um afecto menor é insignificante e um contentamento morno é um sofrimento.

Ecoam as palavras do meu saudoso avô a quem me queixava da Faculdade e do curso: “não me surpreende. As pessoas inteligentes são sempre inconformadas. Vais ter de aprender a viver com isso”. Desse-me Deus menos inteligência, menos profundidade e menos conhecimento, e seria talvez até feliz. Felizes serão os tolos?... Talvez. Se eu não conhecesse o Santini, com certeza achava a Olá um espectáculo e comia um gelado qualquer sem o desencanto de pensar que o de framboesa do Santini é mil vezes melhor.

14 comentários:

Isabel Rodrigues disse...

" A ignorância é a felicidade"

1REZ3 disse...

Eu também sou inconformado, mas creio ser a excepção a essa regra...

As outras coisas não sei (incluído o Santini), mas uma coisa é certa, "mediocre é mediocre", com toda a certeza. Contentarmo-nos com isso é que não!

LBJ disse...

Vê isto:

http://lontrices.blogspot.com/2009/08/os-ciganos-de-borneo.html

às vezes interrogo-me...

Um beijo

afectado disse...

Adorei o final a falar de gelados depois de durante o post o assunto ser mais carregado. Isto apesar de eu gostar imenso dos gelados da Olá :)

CB disse...

Isabel,
Bem vinda. De facto, às vezes parece...

CB disse...

Treze,
O busílis é saber que é medíocre. O que é para mim pode não ser para ti. Se não conheceres melhor, o meu medíocre pode ser para ti excelente.

PS: O Santini mais que vale um passeio até Cascais. Trust me!

CB disse...

LBJ,
Obrigada pelo link. Realmente bem ligado. É a melhor expressão de felicidade. A felicidade é um luxo que não devia precisar de luxos modernos para ser possível.
Um beijo

CB disse...

Afectado,
Às vezes exemplificar com coisas simples é a forma mais eficaz de perceber certas coisas. E apetecia-me um gelado, pronto. Também gosto de alguns da Olá, mas de facto os do Santini são melhores e não há nada a fazer.

1REZ3 disse...

Princesa,

naturalmente! Se for algo individual, tens que ter a experiência ou a capacidade de observação e auto-análise. Se for numa relação é algo a descobrir em conjunto.
Infelizmente não me satisfaço muito facilmente. Apesar de muitas vezes outros acharem que está óptimo, raramente sinto o mesmo.
É estranho porque me satisfazem as pequenas coisas que a vida tem para dar (como facilmente se constata) mas ao mesmo tempo no que toca a mim, ao que faço, é exactamente o contrário.

Não sei porque sou assim, mas sei que nada tem a ver com os genes... :)

PS: Por um lado fazes bem em ser inconformada. Por outro, talvez não seja a melhor opção. Mas isto não são escolhas mesmo...

CB disse...

Treze,
Não acho nada estranho que se tenham pequenas satisfações e mesmo assim se sinta que não chegam. Tal como quando sabemos que há melhor o queremos alcançar, quando sabemos que podemos ser melhor queremos sê-lo - e somos exigentes connosco próprios, não nos damos por satisfeitos.
O PS resume precisamente o busílis da questão - é mau ser ignorante, mas é pior ser um douto infeliz... E nós não podemos "desaprender" as coisas que nos impedem de nos sentirmos completamente felizes.

Pulha Garcia disse...

Santini é bom demais ...

CB disse...

Pulha, o bom não pode ser demais...

mf disse...

"Ignorância pode ser uma benção? Às vezes penso que sim. Se não soubesse o bom que pode ser, o medíocre chegaria."

É... Para muitos, e em muitas situações, a ignorância é uma bênção.
Mas, sabes... Uma vez uma amiga disse-me uma coisa de que nunca me esqueci, precisamente no momento em que estávamos a ter uma conversa como esta: 'É por pensares e saberes e sentires as coisas assim tão profundamente que vives mais profundamente a vida do que a maioria das pessoas.'
Sugamos o tutano de tudo, eu diria. Até aos pormenores doces dos gelados ou amargos das insatisfações. E quem suga o tutano saboreia mais do quem se limita a lamber a superfície, não achas?
Eu não posso dizer que não tenha sofrido. Mas também não posso dizer que não tenha vivido. E quero viver muito mais... :)

CB disse...

mf,
É verdade, sim, que quem suga o tutano assim saboreia muito mais. Também não posso dizer que não vivi, mas ao contrário de ti ainda não vejo o que sofri como alguma coisa com sentido, e penso seriamente que preferia menos sabor a sal no que ainda gostava de viver.