Em ciclos, ou fases, ou interregnos, vão e vêm, alguns voltam outros nunca mais os vemos. Na individual perspectiva de que cada vida é uma estrada por si, e no egotismo com que se olha a própria vida, podemos até conceber caminhos cruzados, ou paralelos, convergentes ou divergentes, podemos consentir, aqui e ali, margens de estrada partilhadas, a sombra da mesma árvore num momento de pausa, a luz do mesmo sol a aquecer duas epidermes, mas olhamos sempre a nossa vida como o ponto central do mundo que se espraia à nossa volta, pejado de caminhos e trilhos diversos. Quando alguém caminha connosco, é sempre o nosso caminho que vemos. Quantas vezes pensamos que, se caminhamos com outro, podemos estar, na verdade, a fazer o caminho do outro? Amor, e amor pode ser tantas coisas, quando é pleno, será caminhar juntos no mesmo caminho, um trilho que não é de um nem do outro, apenas. É caminho que corre junto, numa estrada mais larga, e não dois caminhos que correm paralelos, ainda que muito próximos, ainda que sem margens. Corre junto mas cada um vive sempre uma vida própria, como não pode deixar de ser, e nessa autonomia muitas vezes se desvia. Separa-se, divide a estrada, deixa crescer ervas daninhas na margem do nosso lado, distancia-se e perde-se no horizonte. Verdade seja dita, também por vezes expulsamos companhias de viagem, pelos mais diversificados motivos. Também erguemos muros na estrada criando margens fechadas com portões trancados a cadeado. Mas custa tanto perder gente na vida, dessa gente que um dia caminhou lado a lado, de braço dado e sincronismo nas lágrimas e nos risos, gente que tornamos nossa gente, desse mesmo caminho mais largo. Acho que custa mais perder um grande amigo do que perder um amante. Espera-se muito mais de um amigo assim, acredita-se muito mais facilmente em pureza de sentimentos e em para sempres. Amor apaixonado... é aquela coisa complicada, que o tempo nos ensina que não é eterno “posto que é chama” e é infinito apenas “enquanto dure”. Amizade dessa à sério, que nos torna irmãos de alma de alguém, era para ser eterna e infinita mesmo. E se temos de reconhecer o fim de uma amizade assim, dói como perder família querida, torna-se mais só o caminho que se estreita e se escurece, mais vazia a existência que empobrece, mais triste a alma que emudece.
Mas assim é a vida.
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