Uns bons quinze minutos em frente ao espelho, numa profunda dúvida e total perplexidade, com um fio de cabelo entre os dedos. Uns dez centímetros de cabelo branco, (que não adianta tentar embelezar a coisa e chamar-lhe um fio prateado), ali bem na minha frente, a declarar-me peremptório que a velhice chega a todos, e já ali andava escondido há tempo suficiente para ter aquele comprimento. Já sabia que tinha uns cabelos brancos perdidos por entre os louros, que há uns meses a minha cabeleireira disse-me que tinha uns primeiros a aparecer atrás, mas como nunca os vi, não dei grande importância. Só que este, este vi-o, no alto da cabeça, e segurei-o bem destacado dos outros, e não há dúvida: é absolutamente cinzento, tem um brilho diferente, uma espessura diferente - portanto, é um cabelo branco, e oficialmente o meu primeiro cabelo branco.
Fui para o Google, a querer saber se é cedo, se é tarde, se arranco, se pinto, se escondo. E deparo-me, estupefacta, não só com relatos de primeiros cabelos brancos aos vinte e poucos, como com uma série de sites, blogs e afins, a declarar que os cabelos brancos estão na moda, e que até há uma modelo super requisitada só porque tem um cabelo comprido todo branco-cinza, além de celebridades várias, muitas mais novas que eu, a pintar o cabelo ou a fazerem-lhe madeixas de branco (ou cinza). Não me lixem… O cabelo branco numa mulher não é sexy, seja em que idade for, ponto final! E muito menos a uns anos, (poucos, é certo, mas uns que têm de durar bastante), dos quarenta. Umas cãs nos homens, a rondar os quarenta, tem muito charme, sim senhor. Mas numa mulher? Poupem-me…
Claro que hoje arrasto, miseravelmente, o peso deste fio a crescer-me na cabeleira. É verdade há dias em que eu própria admito que já não sou uma menina, e me sinto velha para algumas coisas, apesar de me darem sempre muito menos idade do que tenho (chego a chocar algumas pessoas, o que tem a sua piada). Sendo que o conceito de velhice é sempre muito relativo (basta lembrar o que era ser-se “velho” quando tínhamos 20 anos), o certo é que o meu conceito de “velhice de 37” não incluía, definitivamente, cabelos brancos. Há um limite para o que se tolera que seja o corpo a definir! E ainda não decidi se arranco ou não o maldito, se me rendo ao inevitável ou se me recuso envelhecer assim tão obviamente e tão cedo. Sim: “tão cedo” - porque se sei que 37 é tarde demais para muita coisa, acho que ainda é cedo para ser velha. E entretanto, porque há que descarregar isto em algum lado, agora ando a tentar decidir a quê, ou a quem, atribuo a culpa por ele.